Cidadão de Cingapura admite ter atuado como espião da China nos EUA

Jun Wei Yeo teria usado sua consultoria política no país americano como fachada para coletar informações para a inteligência chinesa

Bandeiras da China, EUA e Partido Comunista Chinês são exibidas em um mercado atacadista na província de Zhejiang Foto: Aly Song / REUTERS/10-05-2019

Um homem de Cingapura se declarou culpado, após ser acusado de trabalhar como agente da China nos EUA. Jun Wei Yeo teria usado sua consultoria política no país americano como fachada para coletar informações para a inteligência chinesa, segundo autoridades americanas.

O mais recente episódio dentro do crescente impasse entre Washington e Pequim veio à tona após uma pesquisadora chinesa da Universidade da Califórnia em Davis ser acusada por autoridades americanas de mentir sobre seu serviço militar. Ela foi presa e deverá comparecer perante um tribunal na segunda-feira.

Jun Wei Yeo, também conhecido como Dickson Yeo, se declarou culpado em um tribunal federal por trabalhar como agente ilegal do governo chinês entre 2015 e 2019, ano em que foi preso nos EUA, informou o Departamento de Justiça dos EUA em comunicado. Segundo a BBC, ele foi acusado anteriormente de usar sua consultoria política no país como fachada para coletar informações valiosas e não públicas para a inteligência chinesa.

Em sua confissão de culpa, ele admitiu procurar por americanos com alto nível de segurança e fazê-los escrever relatórios para clientes falsos. Segundo documentos judiciais, ele foi recrutado pela inteligência chinesa em 2015 depois de fazer uma apresentação em Pequim. Na época, era aluno de doutorado em uma prestigiada universidade de Cingapura.

De acordo com a alegação de culpa, Yeo usou um site de rede profissional - supostamente o LinkedIn - para entrar em contato com possíveis alvos com probabilidade de ter acesso a informações confidenciais.

Consulados fechados

A China ordenou nesta sexta-feira o fechamento do consulado dos Estados Unidos na cidade de Chengdu, capital da província de Sichuan, três dias depois que Washington determinou o fechamento do consulado chinês em Houston, no Texas, sob a acusação de que ele funcionava como um centro de espionagem militar e científica. A decisão é "uma resposta legítima e necessária ao ato injustificado dos EUA", informou em comunicado o Ministério das Relações Exteriores da China.

Aberta em 1985, a representação diplomática tem 200 funcionários, dos quais 50 são americanos, e cobre uma vasta região no Sudoeste chinês e no Tibete. Replicando a acusação americana contra os diplomatas chineses em Houston, o porta-voz do Chancelaria em Pequim, Wang Wenbin, acusou o pessoal da missão em Chengdu de interferir indevidamente em assuntos internos do país.

— Alguns dos funcionários do consulado americano em Ghengdu se engajaram em atividades incompatíveis com sua capacidade. Eles interferiram nos assuntos internos da China e feriram os interesses de segurança nacional chineses. O lado chinês já havia feito formalmente várias reclamações. Os Estados Unidos sabem o que eles fizeram.

O comunicado da Chancelaria não especificou quando a missão tem que ser fechada. Os Estados Unidos haviam dado o prazo de 72 horas, que terminaram hoje, para o fechamento do consulado em Houston.

O comunicado ressaltou que a contramedida do país "está de acordo com o direito internacional, as normas das relações internacionais e as práticas diplomáticas". "A situação atual das relações sino-americanas não corresponde aos desejos da China, e os Estados Unidos são inteiramente responsáveis por isso", afirmou o texto, pedindo a Washington que "crie as condições necessárias para que as relações bilaterais voltem à normalidade".

Além do de Chengdu, os EUA têm quatro consulados na China continental — Cantão, Xangai, Shenyang e Wuhan — e um em Hong Kong.

A reação chinesa mostra que o a potência asiática não quer parecer fraca, mas também não quer levar as relações com os EUA a um ponto de ruptura. Seu cálculo é que isso poderia prejudicar seus esforços de recuperação econômica pós-pandemia e deixá-la diplomaticamente isolada, no momento em que Washington se esforça para estabelecer cunhas entre a potência asiática e os aliados americanos no mundo.

Recentemente, os laços bilaterais vêm se esfacelando em meio à intensificação da guerra comercial e tecnológica pela Casa Branca. Na quinta-feira, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que o consulado em Houston era "um centro de espionagem chinesa" e "roubo de propriedade intelectual".

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