EUA e Reino Unido acusam a Rússia de testar arma contra satélites

Países dizem que russos lançaram objeto capaz de atingir satélites em órbita; Moscou diz que acusações não passam de 'propaganda'


WASHINGTON E LONDRES — Os governos dos EUA e do Reino Unido acusaram a Rússia de testar uma arma capaz de atingir satélites em órbita, no que poderia ser potencialmente uma ameaça à segurança no espaço.

Em comunicado, o Comando Espacial dos EUA disse que, no dia 15 de julho, a Rússia lançou um "novo objeto em órbita a partir do Cosmos 2543", um satélite de monitoramento em operação desde 2019. O texto afirma que o objeto não levou riscos a outros equipamentos próximos.
"O sistema de satélites russo usado para conduzir esse teste de armamentos orbital foi o mesmo sistema sobre o qual levantamos questionamentos no começo do ano, quando a Rússia manobrou perto de um satélite do governo dos EUA", disse, em comunicado, o general John Raymond, chefe do Comando Espacial e da recém-criada Força Espacial dos EUA . 
"Isso se soma às evidências dos esforços da Rússia para desenvolver e testar sistemas (de defesa) baseados no espaço, algo coerente com a doutrina militar publicada pelo Kremlin para empregar armas que coloquem em risco os EUA e seus aliados no espaço."
O mesmo sistema de satélites foi alvo de críticas e preocupação por parte de Washington e Londres em 2018 e no começo do ano, por conta do que os dois governos chamaram de "comportamento anormal" dos equipamentos em órbita. Em abril, os EUA denunciaram o teste do que seria um míssil capaz de destruir satélites.

Ao comentar as acusações, a Chancelaria russa disse que as manobras realizadas no dia 15 de abril "não colocaram outros satélites em risco", e que "não violou normas ou principios da Lei internacional". 

O comunicado afirma ainda que a ofensiva dos dois países é "parte de uma campanha de informação de Washington para desacreditar as ações espaciais russas". Por fim, Moscou acusa os dois países de terem seus próprios planos para desenvolver armamentos no espaço.

A percepção de que as atividades russas e chinesas no espaço poderiam ser uma ameaça aos interesses americanos foi apresentada como a principal motivação do presidente Donald Trump para criar a Força Espacial, em dezembro do ano passado. A Rússia possui uma unidade semelhante há cerca de cinco anos.

Hoje em vigor, o Tratado do Espaço Sideral, de 1967, trata do veto ao posicionamento de armas de destruição em massa em órbita e em corpos celestes, como a Lua. Mas o texto não fala sobre outros tipos de armamentos ou o desenvolvimento de atividades militares em órbita. Houve propostas de textos especificamente sobre o tema, mas que não avançaram muito nesse sentido.

Disputa nuclear

As disputas espaciais se inserem em um cenário mais amplo de disputa militar entre EUA e Rússia, que tem entre seus principais capítulos a indefinição sobre a renovação do último tratado de controle de armas nucleares em vigor entre os dois países, o Novo Start. Assinado em 2010, ele estabeleceu limites estritos ao número de ogivas nucleares operacionais, além dos mísseis capazes de levar essas ogivas.

Com vencimento previsto para fevereiro, as duas nações estão negociando diretamente os termos da sua renovação, mas a insistência dos EUA em incluir a China, igualmente uma potência nuclear, pode levar ao seu fracasso. Pequim já demonstrou não ter qualquer interesse em fazer parte do acordo .

Caso não seja renovado, será o terceiro grande acordo sobre arsenais a ser abandonado pelo governo de Donald Trump. Em agosto do ano passado, os EUA se retiraram do Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermediário, que bania mísseis com capacidade de levar ogivas atômicas com alcance entre 500km e 5.500km. 

Na época, Washington alegou que os russos estavam descumprindo os termos do texto, também de 2010.

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