A associação entre a empresa de Deltan e o acordão Petrobras-EUA

Deltan e Pozzobon dialogaram no Telegram a respeito de montar cursos sobre corrupção, formação de lideranças, compliance. Tudo em sintonia com o estatuto da virtual ONG da Lava Jato


O estatuto da fundação de direito privado ou ONG que a Lava Jato em Curitiba tentou criar com R$ 1,2 bilhão que a Petrobras perdeu em processo nos EUA, convém ao modelo de negócio da empresa que Deltan Dallagnol planejou em sociedade com o procurador Roberson Pozzobon.
Deltan e Pozzobon trocaram mensagens sobre a empresa de eventos e palestras, que seria aberta em nome de suas esposas, pouco mais de 2 meses após a Petrobras assinar nos Estados Unidos um NPA (non-prosecution agreement, ou “acordo de não acusação”) com o DoJ (Departamento de Justiça americano).

O acordo obrigou a Petrobras a desembolsar um total R$ 2,5 bilhões às “autoridades brasileiras”. A fundação ou ONG da Lava Jato ficaria com metade para investir subjetivamente em ações sociais e de combate à corrupção – exatamente a temática que pautou as palestras de Deltan, Sergio Moro e outros expoentes da operação nos últimos anos. Só no ano passado, Deltan disse no Telegram ter faturado algo perto de R$ 400 mil.

A mensagem que revela o plano de Deltan e Pozzobon data de 5 de dezembro de 2018. O NPA da Petrobras com o DoJ foi assinado em 28 de setembro de 2018.
Um negócio, aliás, que teve a participação obscura dos procuradores da Lava Jato, pois até hoje não se sabe se a cooperação internacional foi regular.
De maneira atropelada, em janeiro de 2019, os procuradores de Curitiba assinaram com a Petrobras um segundo acordão, que dava destinação à metade da multa de R$ 2,5 bilhões e estabelecia outras diretrizes que empoderavam a força-tarefa de Curitiba.

Este segundo acordo foi suspenso para análise do Supremo Tribunal Federal, mas o desenho inicial do estatuto da ONG virtual da Lava Jato favorece, claramente, empresas como a sonhada por Deltan e Pozzobon.

O QUE DIZ O ESTATUTO DA ONG DA LAVA JATO

No acordo que assinou em janeiro com a Petrobras, a turma de Deltan definiu a destinação do R$ 1,2 bilhão proveniente do NPA “para investimento social em projeto, iniciativas e desenvolvimento institucional de entidades e redes de entidades idôneas, educativas ou não, que reforcem a luta da sociedade brasileira contra a corrupção.”
Sendo que o tal combate à corrupção deveria envolver a promoção da “cultura republicana de respeito à legalidades e aos valores democráticos, de modo apartidário, por meio da promoção de cidadania, da formação de lideranças e do aperfeiçoamento das práticas política.”

Também deveria “promover a conscientização da população brasileira sobre a importância da integridade no ambiente público e privado”. Há ainda um artigo sobre desenvolver a “cultura do compliance”.
Deltan e Pozzobon, como demonstrou a Folha e o Intercept, dialogaram no Telegram a respeito de montar um curso menos sobre Lava Jato e mais motivacional, voltado para empreendedorismo, crescimento profissional, formação de lideranças; em parceria com uma empresa que já tinha experiência no ramo. E em sintonia com o estatuto da virtual ONG lavajateira.

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